Aumenta a quantidade de homens solteiros na fila de adoção

14 de agosto de 2022 417

Ricardo Trevisan tinha 37 anos, uma vida profissional estável e realizada quando sentiu que faltava algo. Professor de arquitetura e urbanismo na Universidade de Brasília (UnB), gostava de transmitir conhecimento aos alunos. Apegado à família, convivia com os cinco sobrinhos e começou a desejar passar a sua experiência de vida para alguém, como via os dois irmãos fazendo. Foi nesse ínterim, e com o aval da família, que Ricardo decidiu adotar, em 2014, uma criança que tivesse entre zero e seis anos. Na época, o estado civil de solteiro não o impediu de ir em frente na decisão.

O processo iniciou enquanto estava sozinho, mas não demorou para que Jair, seu atual companheiro, embarcasse na ideia. "Informei que estava no processo de adoção e ele topou a ideia. Fiquei um ano fora, foi um relacionamento que começou à distância e, quando voltei, moramos juntos", conta Trevisan. Ainda assim, o processo continuou apenas no nome de Ricardo. Ele fez sozinho o curso de um mês de habilitação para a adoção. A orientação de permanecer apenas em nome de Ricardo foi dada pelos próprios agentes no processo, para não retroceder a vez na fila.

O processo todo durou três anos e meio. A princípio era uma criança apenas, mas em uma conversa com o companheiro, em janeiro de 2017, decidiram ampliar o processo para adotar uma dupla de irmãs — uma de 4 e outra de 6 anos, à época. A mudança acelerou a concessão: as meninas chegaram ao novo lar em outubro do mesmo ano. "Todo o processo foi tranquilo. Eu entrei como pai solteiro, mas mesmo com o outro pai, o processo foi regular, não teve problema nenhum e, na UnB, tive seis meses de licença paterna", relata.

O professor faz parte de duas estatísticas, ainda recentes no Brasil: a de homens solteiros e a de casais homoafetivos que entram na fila de adoção. No geral, de 2019 até 2021, houve uma tendência de aumento. De 3.270 subiu para 3.800 os pedidos, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os dados deste ano ainda não foram consolidados, mas um dos destaques percebidos foram os 706 homens solteiros habilitados atualmente para a adoção. Não se sabe quantos destes são de fato pais solteiros, mas se esse dado for comparado à quantidade de casais homossexuais do sexo masculino interessados em adotar, percebe-se um significativo aumento. Ano passado foram 131 doações permitidas pela justiça — o primeiro perfil tem demonstrado maior interesse na questão.

Fonte: Tainá Andrade