APÓS O CAVALEIRO DO APOCALIPSE, AÍ VEM O HOMEM PROVIDENCIAL
Assistindo ao desempenho do Lula na sabatina do Jornal Nacional, percebi o quanto pode ser nociva essa obsessão personalista que move alguns desses indivíduos cujo universo se esgota neles mesmos.
Tamanho ardor às vezes é correspondido pelo destino e eles acabam conseguindo o que queriam, apenas porque o quiseram com uma intensidade que nenhum concorrente foi capaz de igualar.
Lula jamais teve (e muito menos tem agora!) as soluções necessárias para o Brasil sair de sua condição de condenado a ocupar um papel periférico e subalterno na ordem capitalista.
E também não preenche requisito nenhum para ser o revolucionário capaz de desembaralhar esse jogo de cartas marcadas que acentua cada vez mais as desigualdades entre as nações, entre as classes sociais e entre os indivíduos, até que se esgotem os remendos e gambiarras que vêm preservando um arranjo insustentável e advenha uma explosão de irracionalidade cujas consequências ninguém pode de antemão prever.
Mesmo assim, Lula tanto fez para ser o primeiro brasileiro eleito três vezes presidente da República que está bem perto de alcançar o objetivo, mesmo que para isso haja dado substancial contribuição para deixar o país em frangalhos.
Sim, porque Lula precisava desesperadamente de um adversário como Jair Bolsonaro, cujos defeitos, de tão extremados, por comparação o tornassem palatável até para quem não deixa de notar suas evidentes limitações.
E, como sua alegada preocupação em cuidar do povo não passa de conversa pra boi dormir, tudo fez para que o adversário escolhido a dedo chegasse à reta final ainda na pista, pois tinha a certeza de que seria ele quem cruzaria na frente a linha de chegada.
Toda a destruição causada pelo celerado e todos os brasileiros que morreram, mas poderiam ter sobrevivido à pandemia caso a crise sanitária fosse administrada sem sabotagem demente e maracutaias grosseiras: este foi o preço que Lula pagou, sem pestanejar, para que hoje o país precisasse de algo que quase não existe mais: um homem providencial. Ele.
Sim, descemos tão baixo (se não chegamos ao fundo do poço, pouco falta!) que a mera governança convencional e sem ideias se torna atraente, pois a alternativa é o caos, a entropia, a guerra de todos contra todos.
E vem então o Lulinha paz e amor acenar com um governo em que a briga de foice no escuro dará lugar à negociação. Os exploradores e os explorados, os predadores e suas vítimas, os que se banqueteiam e os que passam fome, todos dialogarão e tudo acabará da maneira como sempre acabou no Brasil: quem pode mais fica com a parte do leão.
A diferença é que as disputas se resolverão como no futebol, em que os atletas dão entradas violentíssimas durante a partida mas se abraçam e trocam camisas após o apito final.
Esta lenga-lenga vai colar? Vai. Afinal, o que mais nos resta, depois que o impeachment do genocida não vingou, mesmo sendo ele quem mais o merecesse em toda a história republicana do Brasil?
E não vingou, em grande parte, porque Lula e suas vaquinhas de presépio do PT por ele domesticado atuaram, de forma velada, como os principais obstáculos a uma união de forças oposicionistas comparável à que ocorreu nas inesquecíveis jornadas das diretas-já.
O inferno virá depois, como apontou William Bonner: o país que Lula deixou Bolsonaro desconstruir não se reerguerá das cinzas apenas graças a uma melhora na governança e um pouco de boa vontade por parte dos amigos lá de fora que, supõe ele, voltarão correndo.tão logo o vejam empossado.
Faz-se necessário muito mais para que os coitadezas brasileiros tornem a ter existências remotamente compatíveis com sua dignidade como seres humanos.
E o capitalismo, no presente estágio de sua agonia lenta, zelará antes pelos privilegiados de sempre, não pelos auto-iludidos que vegetam numa eterna rabeira, como nós. É simples assim. (por Celso Lungaretti)
Postado por celsolungaretti
MAIS LIDAS
Dólar ronda R$ 5,60 após dados de emprego dos EUA; Ibovespa sobe
Gaeco investiga esquema que movimentou R$ 316 milhões na Novacap
