AO AMANHECER, NA RUA PRINCIPAL, OLHO NO OLHO COM DJANGO MACRON, KID BOLSONARO PISCOU!

30 de junho de 2019 588

josias de souza
BOLSONARO BEIJA A CRUZPOR ACORDO MERCOSUL–EU
Jair Bolsonaro emitiu na cidade japonesa de Osaka a senha que eliminou o derradeiro entrave para a assinatura, em Bruxelas, na Bélgica, da histórica aliança de livre comércio entre Mercosul e União Européia. 
 
Num encontro com o presidente francês Emmanuel Macron, o capitão beijou a cruzdo Acordo de Paris, comprometendo-se com o respeito às metas de redução de gases poluentes. 
 
Macron voara para o Japão disposto a travar o desfecho da negociação com o Mercosul caso Bolsonaro não afastasse de vez o risco de retirar o Brasil do acordo climático de Paris. 
 
O gesto de Bolsonaro não foi banal. Marcou uma espécie de rendição do presidente brasileiro ao pragmatismo diplomático. Ele hesitava em reconhecer integralmente o Acordo de Paris desde a campanha presidencial de 2018. 
 
Na véspera, irritado com cobranças ambientais feitas pela premiê da Alemanha, Angela Merkel, Bolsonaro dissera que os alemães "têm a aprender muito conosco" em matéria de meio ambiente. Avisara que não desembarcara na reunião do G20 para "ser advertido por outros países". 
 
O ministro palaciano Augusto Heleno soara ainda mais corrosivo, recomendando a Macron e Merkel o seguinte: "Vão procurar a sua turma!" 
Macron exigiu que o Brasil cumprisse o Acordo de Paris...
 
Em Bruxelas, a delegação brasileira, comandada pelos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Tereza Cristina (Agricultura), procurava acertar-se com a turma europeia. 
 
Numa troca de telefonemas, Bolsonaro foi alertado para o fato de que os comentários feitos em Osaka ecoavam na sala de reuniões de Bruxelas. Não restava ao capitão senão abraçar as metas de Paris, pois o respeito ao acordo climático está expressamente previsto no tratado comercial do Mercosul com a União Europeia. 
 
Consumado o desfecho positivo, Bolsonaro foi às redes sociais para faturar a novidade como uma conquista pessoal. Deu de ombros para esforços realizados ao longo de duas décadas. Não mencionou o passado senão para magnificar o presente: "Histórico!", escreveu Bolsonaro. 
"Nossa equipe, liderada pelo embaixador Ernesto Araújo, acaba de fechar o Acordo Mercosul-UE, que vinha sendo negociado sem sucesso desde 1999. Esse será um dos acordos comerciais mais importantes de todos os tempos e trará benefícios enormes para nossa economia." 
...e Bolsonaro, engolindo as bravatas anteriores, cedeu...
No final de 2018, após a vitória de Bolsonaro na disputa presidencial, o então futuro ministro da Economia Paulo Guedes ofereceu uma ideia da importância que o novo governo atribuiria ao bloco regional que agora entusiasma o capitão: "O Mercosul não é prioridade", disse o Posto Ipiranga a uma repórter do jornal argentino Clarín. 
"Você está vendo que aqui tem um estilo que combina com o presidente, que fala a verdade. A gente não está preocupado em agradar." 
A arrogância era uma decorrência da desinformação. Sob Michel Temer, estreitaram-se as negociações do Mercosul com o bloco europeu. A coisa só não avançou porque o apodrecimento ético do governo Temer afugentou os parceiros. A gestão Bolsonaro encontrou a bola na marca do pênalti. Até Paulo Guedes percebeu que seria uma tolice não empurrar um bom acordo  comercial para o fundo da rede. 
 
De resto, é imperioso registrar que o fechamento do acordo foi azeitado por ninguém menos que Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos ameaça impor barreiras tarifárias para produtos procedentes da Europa. Acossados, os países europeus passaram a enxergar o Mercosul com outros olhos. 
...fazendo o chanceler bater em retirada com seu anti-globalismo

É como se dissessem para Trump: "Já temos para quem vender os nossos automóveis. E passaremos a comprarcommodities  agrícolas do Brasil, não dos Estados Unidos." 
 
Suprema ironia: Ao fechar a economia dos Estados Unidos o populista preferido de Bolsonaro ajuda a abrir o mercado do Brasil. Grande avanço. 
 
Resta saber onde o chanceler Ernesto Araújo, ministro da cota de Olavo de Carvalho, vai acomodar o seu discurso anti-globalismo. É cada vez menor o espaço para a encenação daquilo que o ex-ministro Santos Cruz chamou de show de besteiras(por Josias de Souza)
 

sexta-feira, 28 de junho de 2019

A GRANDE DIÁSPORA MUNDIAL – 1

 
"Não dá para viver na Líbia. Então, eu decidi fugir de barco. É preciso escolher entre morrer no mar ou morrer por causa de uma bala. Eu preferi o mar (Aída, 41 anos, resgatada em 2018 no Mediterrâneo pela ONGMédicos Sem Fronteiras) 
.
A imagem de uma criança síria morta numa praia da Turquia em 2015, como resultado da imigração forçada por uma guerra cuja crueldade chocou o mundo, é bem mais expressiva do que as frias estatísticas. 
 
Corresponde, no seu contexto conceitual, às mesmas causas da imagem abaixo, recém-divulgada e que provocou idêntica repulsa, na qual um pai salvadorenho e sua filha de dois anos morrem afogados durante uma temerária tentativa de, exatamente, salvarem suas vidas. 
 
Já ao presidente destrumpelhado e aos muitos que priorizam acima de tudo a manutenção de suas luxos e privilégios,  tais episódios não chocam: sentindo-se incomodados com a presença dos coitadezas do capitalismo, consideram que os mortos são culpados pela própria morte, pois cometeram invasão não autorizada.
 
Por outro lado, para quem ainda guarda um pouco de sensibilidade humana e lucidez sobre a tragédia que se abate sobre a humanidade, aquelas mortes correspondem a dois assassinatos político-econômico-governamentais, cujos responsáveis têm nome e sobrenome.
 
Oscar Martinez Ramirez e filha: mortos na etapa final de sua jornada, quando os EUA estavam tão perto!
Vivemos a maior diáspora já registrada nos anais da história da humanidade e ela ocorre, simultaneamente, nos cinco continentes, não se podendo, portanto, minimizá-la como um fato social pontual, pois a sua abrangência e gravidade atestam o contrário. 
 
Nem se resume a uma questão de bom ou mau gerenciamento governamental. Trata-se, isto sim, da evidente saturação de um modelo social que não encontra conexão entre forma e conteúdo.
 
Estamos diante de um fenômeno que exige de nós muito mais do que prestação ou não de solidariedade às vítimas da hora. Trata-se de uma questão de responsabilidade social com nossos semelhantes, inclusive com aqueles que não foram (ainda) atingidos pelas labaredas do fogo que consome a lógica incendiária do capital. 
 
O fogo metafórico de que falo soma-se ao fogo real que ora consome a culta e ainda relativamente rica Europa, como nunca antes tinha acontecido, ateado pelo ecocídio igualmente em curso e pelas mesmas causas. 
 

Por que os Estados Unidos são a última ilha de prosperidade num mundo capitalista que desaba?
 
A resposta a esta pergunta não pode ser outra senão aquela que afirma a existência de vários fatores conjugados que ainda permitem o fausto da economia estadunidense quando comparada com a de outros países. 
 
Tal situação peculiar é (equivocadamente) utilizada como argumento para a afirmação da pretensa competência e correção de métodos e conceitos de Trump, bem como para erigi-lo em exemplo a ser seguido pelos desavisados.
 
A prosperidade estadunidense está na inversa proporção da pobreza mundial —não apesar,  maspor causa de tal pobreza—, daí a inconsequência ou amoralidade dos que a apresentam como modelo a ser imitado e buscado. 
 
Quando se analisa com lente de cuidadosa apreciação crítica os dados da economia estadunidense pode-se facilmente concluir que ela se assenta sobre artifícios que lhe são úteis e passam despercebidos no presente, mas que serão catastróficos no futuro próximo. e
 
Será quando poderemos comprovar, com a máxima clareza, que o gigante tinha (e tem) pés de barro. (por Dalton Rosado)
(continua)

"...quando há uma terra prometida/ o bravo irá e outros o seguirão/ a beleza
do espírito humano/ é a vontade de realizar os próprios sonhos/ e assim,
as massas atravessam o oceano/ em direção a uma terra de paz e
de esperança/ mas ninguém ouviu uma voz ou viu uma luz/
enquanto era jogado na costa/ e ninguém foi recebido
pelo eco da frase Eu levanto minha lâmpada
junto à porta dourada..."
 
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )