ANTES SÓ CONSERVADOR, O LULOPETISMO AGORA É CONTRARREVOLUCIONÁRIO

22 de dezembro de 2022 232

 

david emanuel coelho

A IMPOTÊNCIA DA ESQUERDA BRASILEIRA

José Chasin, importante filósofo marxista brasileiro, dizia, pouco após a queda da URSS, que a esquerda estava "morta em sua teoria e em sua prática". 

Décadas se passaram desde então, sem que houvesse completa aceitação de tal  veredito. 

Há muito engano sobre vitórias eleitorais e crescimentos de bancada, que, ao fim, não representam absolutamente nada. No entanto, os rumos das ações da autoproclamada esquerda, suas concepções e sua inserção social, constantemente comprovam  a justeza da afirmação do célebre intelectual. 

No entanto, existe outro elemento importante a ser considerado na condição da esquerda brasileira, talvez associado à sua própria morte: a impotência

A esquerda não possui força própria para absolutamente nada, tanto que precisou se subordinar ao personalismo saudosista de Lula para poder sobrepujar Jair Bolsonaro. Pois o que derrotou o genocida eleitoralmente não foi nenhuma mobilização popular ou ações organizadas de conscientização, mas sim as reminiscências da belle époque do começo do século, contraposta, à vida dura e sofrida de sua segunda década. Não foi a política, foi a saudade.

Por isso, inclusive, a campanha eleitoral de 2022 foi a mais despolitizada da história, não tendo qualquer tipo de discussão relevante ou mobilização digna de nota. Foi a campanha dos baixos instintos, do irracionalismo, da ignorância e do vazio. Votou-se não para optar por alguém, mas para impedir que o poder acabasse nas mãos do adversário. 

Uma campanha negativa, portanto, na qual inexistiram proposições, até porque o essencial não estava em debate. Ganhasse quem fosse, a política econômica e o modelo de sociedade permaneceriam essencialmente os mesmos: o capitalismo periférico, subordinado, de matriz neoextrativista, permaneceria intocado, apenas mudando o chantilly que cobre a grande merda, se progressista ou fascistoide.  

E onde estava na esquerda nisto tudo? Basicamente, ela se dividiu em dois grupos, os que se curvaram desde o 1º turno e os que vieram a se curvar apenas no 2º, fingindo-se de autônomos na fase inicial. 

No primeiro grupo, o exemplo mais notório é do Psol. Como a história de rendição do psolismo já foi por mim narrada neste outro artigo, não preciso retomar o assunto aqui. O partido, no entanto, teve o mérito de não esconder o jogo, embarcando desde a largada no bonde lulista. 

O segundo grupo foi mais dissimulado. Fingiu independência no início, até mesmo criticando o lulismo, para no final render-se incondicionalmente. 

"O Psol teve o mérito de não esconder o jogo, embarcando no bonde petista desde o início"

Neste estão inclusos PSTU, PCB e UP, além de uma miríade de outros grupelhos. Abandonando a autoproclamação, onde falam para si mesmos e parecem acreditar que estão na vanguarda de alguma coisa, foram para os braços do liberalismo vencedor.

Passada a eleição, pateticamente, grande parte desta esquerda passou a fazer as vezes de consciência crítica do PT, lançando alertas para os possíveis erros do lulopetismo, como se de fato Lula e sua gangue estivessem equivocando-se e não simplesmente seguindo o seu próprio projeto de poder, que jamais foi outro que não o de administrar o capitalismo e enriquecer-se sob ele. 

Parecem ainda acreditar que o PT e o futuro presidente insiram-se na esquerda e tenham algum compromisso com qualquer forma de transformação, quando, na realidade, o lulopetismo não é hoje sequer uma força conservadora, mas sim abertamente contrarrevolucionária. Marcha desde 2013 na contramão das massas insurrectas. 

A esquerda, inclusive, rejeita a ação destas massas pelo óbvio motivo de ser por elas rechaçada. Presa em concepções esquemáticas, fazendo uma interpretação oscilante entre o puro stalinismo e o impressionismo barato, se perde no curso da história, tendo de prostrar-se à hegemonia lulista para ter o mínimo de efetividade. 

A inoperância da esquerda abre livre curso de ação à extrema-direita que é a grande mobilizadoraatual  das ações das massas. Momentaneamente derrotada nas urnas, permanece com força social e com agitações nas ruas, fazendo uma crítica radical às atuais condições sociais e propondo uma transformação completa do país. 

A extrema-direita age apesar de Bolsonaro, pois sua relação com o futuro ex-presidente é de criador para criatura e não o contrário. O capitão foi elevado pelas massas reacionárias, mas ele jamais conseguiu as domar completamente, tendo inclusive havido uma pluralidade de lideranças entre elas – Aécio, Moro, Cunha, para citar alguns. Ao contrário da esquerda que foi liquidada por Lula e passou a ser completamente dependente deste. 


Este é inclusive um trunfo para as forças reacionárias, pois independem de um nome, agindo muito mais por ideias do que por personalidades. Força deles e fraqueza da esquerda, atrelada por demais ao destino de um indivíduo historicamente superado e sem qualquer tipo de compromisso com nada a não ser ele mesmo. 
A impotência da esquerda é, portanto, a força da extrema-direita e prenuncia um futuro terrível, do qual muitos sequer conseguem ter clareza, neste momento de deslumbramento com a vitória eleitoral. (por David Emanuel Coelho)

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Fonte: CELSO LUNGARETTI
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )