AFFAIR' PAZUELLO CONFIRMA: O EXÉRCITO É PARTE DO BOLSONARISMO
Deu a lógica: o general da ativa Eduardo Pazuello não sofrerá punição por haver infringido os regulamentos militares ao participar de manifestação política de cunho golpista, apoiando o presidente da República.
Digo deu a lógica por dois motivos. Primeiro, porque Bolsonaro é de fato o chefe supremo das Forças Armadas e cabe a ele a palavra final em questões de disciplina militar. Lembremos de quando Lula anistiou controladores do Cindacta-1 em 2007 por terem se amotinado, reivindicando melhorias das condições de trabalho.
Fato é que Lula exerceu seu papel de comandante supremo, mas é fato também que, ao contrário de agora, a Aeronáutica puniu os operadores, tendo a anistia acontecido a posteriori. E aqui reside a diferença fundamental, a de os operadores terem sido punidos e Pazuello, não.
Este fato já nos leva ao segundo motivo de ter dado a lógica. Bolsonaro poderia até anular a punição, mas era prerrogativa do comandante do Exército impô-la, mesmo sendo ela depois possivelmente anulada. Ao recusar-se a punir o ex-dublê de ministro da saúde, o comandante resolveu seguir a vontade do presidente antes de qualquer coisa. Noutras palavras, decidiu fazer o jogo bolsonarista do liberou geral.
E aqui entro num ponto em que insisto há tempos e que é apoiado por outros analistas da imprensa e da academia. O exército não é conivente com o bolsonarismo, o exército e as demais forças armadas são pais do bolsonarismo.
Quando olhamos os militares hoje abrigados no governo, podemos estabelecer a gênese de suas vidas políticas desde pelo menos a época da Comissão Nacional da Anistia.
Ali estes militares, guardiões da falsificação da história, não aceitaram de modo algum as investigações para esclarecer desaparecimentos e demais crimes cometidos pela ditadura. Mesmo sendo o trabalho da Comissão apenas memoralístico e não criminal!
O caos político instalado a partir das manifestações de junho de 2013 também teve papel importante. Ao mesmo tempo em que fizeram acordar nestes militares o já secular espírito de tutelagem da República, também teve o papel de traze-los cada vez mais para dentro da vida política e social, à medida que foram chamados pelo próprio poder civil para reprimir atos políticos e administrar sistemas draconianos de segurança pública.
Não podemos esquecer que Dilma entregou a eles um sistema avançadíssimo de espionagem e os colocou na rua para reprimir manifestantes.
Para completar, vieram as Olímpiadas de 2016 e cargos importantes foram entregues a generais, almirantes, coroneis, etc, além dos próprios atletas que foram militarizados, treinando em quartéis e bases Brasil afora. Quem não se lembra dos medalhistas brasileiros envergonhando o país ao bater continência nos pódios? Simbolicamente, ali começou a alicerçar-se o caminho de retorno dos militares ao poder.
Então, há um background sólido. Os militares não brotaram no governo, foram sendo chamados e aceitos pelo poder civil, como, de resto, é sempre o que ocorre no Brasil.
Os militares, portanto, já ambicionavam chegar ao comando supremo. É aí que viram em Bolsonaro o cavalo certo a se apostar.
Desde pelo menos 2015, o atual presidente tinha portas abertas nos quartéis, conforme demonstrado por reportagens e outros analistas. O responsável por isso era o então comandante do Exército, Villas-Bôas, o mesmo do tuíte pressionando o STF e que hoje é assessor do Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República.
Depois vieram outros generais, almirantes, brigadeiros, coronéis e toda fauna do militarismo nacional. Eles embarcaram, deram aval e formularam o plano de governo – não escrito, óbvio – de Bolsonaro. Até mesmo deram aval e formularam os aspectos mais amalucados do bolsonarismo. P. ex., era vontade deles reformular livros didáticos para recolocar a verdade histórica da ditadura militar.
Não foi portanto uma lógica de cooptação das Forças Armadas pelo bolsonarismo, mas, ao contrário, uma cocriação do bolsonarismo por elas. Daí não existir contradição entre militares e Bolsonaro, sendo, na verdade, uma coisa só. E daí não ser surpresa Pazuello ficar impune. Como punir um general por fazer exatamente o que é estimulado e normalizado pelo bolsonarismo se este é uma criação dos próprios militares?
As continências olímpicas prenunciaram o que viria
Por isso, o comandante do Exército nem se deu ao trabalho de impor a punição e aguardar ser desautorizado pelo presidente.
Enquanto bolsonarista, já providenciou a absolvição imediata do general fujão.
O que, de resto, é mais um aprendizado para os crentes do republicanismo: toda força militar é política, às vezes camuflada, às vezes abertamente. (por David Emanuel Coelho)
Postado por David Emanuel
MAIS LIDAS
Dólar ronda R$ 5,60 após dados de emprego dos EUA; Ibovespa sobe
Gaeco investiga esquema que movimentou R$ 316 milhões na Novacap
