A REPÚBLICA FEDERATIVA DO CORONASIL TEM DOIS MINISTROS DA SAÚDE E UM ZERO À ESQUERDA USANDO FAIXA PRESIDENCIAL
luís francisco carvalho filho
O DUPLO
A coexistência temporária de dois ministros da Saúde é um capítulo cômico da tragédia humanitária.
Nunca houve tanta inação. O país está vulnerável, ansioso, exausto. Nunca morreu tanta gente.
Pensando na eleição do ano que vem, o presidente aproveita o discurso supostamente científico do ministro que chega para legitimar a herança negacionista do ministro que sai.
Mas a coabitação dos dois ministros pode se explicar também por razões mundanas.
A exoneração do ministro que sai será publicada quando ele pisar em solo estrangeiro? Foi assim com o (fugitivo) ministro da Educação. O general merece um porto seguro, longe de eventuais investigações do morticínio e dos escândalos sanitários.
Outra hipótese que se aventa: o general teria a missão de domesticar o médico antes da posse, para que ele compreenda o exato significado de rezar pela mesma cartilha.
Como um vigilante bancário, o ministro que sai observa o ministro que entra enaltecer sua gestão desastrosa.
O general é o retrato cru da incompetência estratégica, o médico carrega a imagem de portador mambembe do conhecimento.
Na contramão da retórica especializada, o médico revela, nos primeiros pronunciamentos, uma notável inabilidade para o uso da máscara: enquanto fala, a proteção escorrega, escorrega, até exibir, ainda que por instantes, as narinas, livres para o contágio.
O discreto e constrangedor acontecimento reforça, subliminarmente, o pensamento presidencial de que a máscara incomoda e não é tão essencial assim.
O médico cunha a expressão aglomeração fútil como se fosse possível, na pandemia, conceber a ideia de aglomerações úteis.
Enquanto o ministro que chega se confunde com o ministro que sai, o mesmo ministro da Justiça que usa a Lei de Segurança Nacional para perseguir quem ofende a honra do governante comete a prevaricação política e republicana de não investigar a ameaça (virtual, mas armada) sofrida pelo principal oponente, também presidente da República, que retorna à cena eleitoral.
No país dos dois ministros da Saúde, o oponente pode ser chamado de ladrão e o presidente não pode ser chamado de genocida.
A falência sanitária e a falta de leitos noutros países recuperam a autoestima do presidente e refrescam a imagem estabelecida no imaginário popular: aqui como lá, há virtudes e defeitos, não é verdade?
Ninguém tem culpa. Todos fazem o que é possível fazer. Culpa da pandemia. O presidente trouxe a vacina.
A mais rica cidade do país está na antessala do colapso hospitalar: de longe, o presidente contempla o sofrimento de inimigos.
Enquanto o ministro que sai se agarra à cadeira do ministro que chega, o presidente sofre pressões políticas desconcertantes. Os filhos, imitadores do pai, são investigados por lavagem de dinheiro.
A maldição do presidente é a perda do sono. Medo de ser envenenado. Medo de não se reeleger. Medo da prisão. Medo dos que perderam parentes e amigos que poderiam estar vivos.
Nunca um governante do Brasil foi tão acintosamente imoral, ridículo e perigoso. (por Luís Francisco Carvalho Filho)
Mais do que nunca, aqui é o fim do mundo...
Postado por celsolungaretti às 18:31 Nenhum comentário:
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Marcadores: Abraham Weintraub, André Mendonça, Covid-19, Eduardo Pazuello, genocídio, Gilberto Gil, Jair Bolsonaro, Luís Francisco Carvalho Filho, Marcelo Queiroga, negacionismo, Torquato Neto, tragédia humanitária
NO MUNDO DO BOLSONARO
No mundo dos fatos, Jair Bolsonaro negou a gravidade da epidemia de Covid-19, sabotou medidas de distanciamento social, promoveu tratamentos mágicos que não funcionam e foi omisso na compra de vacinas.
Ainda provocou aglomerações com suas aparições públicas e espalhou fake news sobre as máscaras. Objetivamente, ele responde por parte das quase 300 mil mortes que o Brasil registra.
No mundo de Jair Bolsonaro, a história é bem diferente. No início deste mês, o presidente fez uma avaliação de sua performance ao longo de um ano de pandemia:
"Desculpe aí, pessoal, não vou falar de mim, mas eu não errei nenhuma desde março do ano passado".
É possível conciliar esses mundos, isto é, há uma explicação lógica para pelo menos compreender a discrepância? Sim, e ela é de ordem psicológica.
O cérebro humano é um trapaceiro. Ele não hesita em torcer a linguagem e os fatos para poupar-se das dores de dissonâncias cognitivas e construir para si próprio uma autoimagem aceitável.
Meu exemplo favorito da magnitude dessa capacidade é a declaração de um serial killer capturado nos EUA em 1994:
"Além das duas pessoas que matamos, das que ferimos, da mulher em que demos coronhadas e das pessoas que fizemos comer vidro, não machucamos ninguém".
E Bolsonaro acredita mesmo que foi impecável em relação à Covid-19? A pergunta é traiçoeira. Gostamos de pensar nossos cérebros como um comando centralizado, mas a realidade é bem mais multifacetada.
Uma imagem interessante é a proposta pelo neurocientista David Eagleman, segundo o qual o cérebro é uma democracia representativa, na qual diversos módulos e sistemas podem ter opiniões divergentes sobre o mesmo tema. Vence quem, num dado momento, grita mais alto.
O trágico dessa história é que quanto mais cobramos responsabilidade de Bolsonaro, mais seu cérebro busca refúgio no mundo paralelo no qual ele não errou nenhuma. (por Hélio Schwartsman)
Postado por celsolungaretti
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