A missão de Fuad: apenas Alexandre Kalil virou entre turnos em Belo Horizonte

26 de outubro de 2024 91

Fuad Noman (PSD) irá às urnas neste domingo, 27, em busca de um feito que apenas um candidato conseguiu em Belo Horizonte: vencer a eleição depois de chegar ao segundo turno em desvantagem.

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A missão

No primeiro turno, Bruno Engler (PL) recebeu 34,38% dos votos válidos, contra 26,47% do atual prefeito. Em desvantagem superior a 99 mil votos, Fuad aposta em uma campanha focada nas realizações locais e em acenos ao centro, com o objetivo claro de se opor ao bolsonarismo mais claro do oponente.

Embora tenha a seu desfavor a estatística local e das capitais, de um modo geral — em 16% das disputas que foram ao segundo turno, houve uma virada –, o incumbente liderou a maior parte das pesquisas na nova etapa da corrida.

Desde que as eleições municipais podem ter segundo turno (1992), a capital mineira teve três definições em primeiro turno, quatro disputas em que o mesmo candidato liderou nas duas votações e uma em que houve virada.

O histórico

1992: Patrus Ananias (PT) venceu os dois turnos;

1996: Célio de Castro (PSB) venceu os dois turnos;

2000: Célio de Castro (PSB) venceu os dois turnos;

2004: Fernando Pimentel (PT) foi reeleito em primeiro turno;

2008: Márcio Lacerda (PSB) venceu os dois turnos;

2012: Márcio Lacerda (PSB) venceu os dois turnos;

2016: Alexandre Kalil (PHS) virou a disputa;

2020: Alexandre Kalil (PSD) foi reeleito em primeiro turno.

A virada de Kalil

Fuad busca reproduzir o feito de um velho conhecido. O atual prefeito foi secretário municipal da Fazenda durante o primeiro mandato de Kalil e, em 2020, concorreu como companheiro de chapa do chefe.

Vice-prefeito até março de 2022, assumiu a cadeira quando o titular renunciou para se candidatar ao governo do estado — acabou derrotado por Romeu Zema (Novo). Desde então, trocou secretários e deu novo rumo à gestão.

Na campanha deste ano, o ex-prefeito desembarcou do PSD, apoiou a candidatura fracassada de Mauro Tramonte (Republicanos) e fez duras críticas ao sucessor. A ruptura foi brusca, mas é justamente o perfil alheio às posturas políticas tradicionais que ajuda a explicar a virada conquistada por Kalil em 2016.

Empresário do ramo de engenharia, ele era conhecido na cidade por ter presidido o Atlético Mineiro — sob seu comando, a equipe teve sua principal conquista histórica, a Copa Libertadores de 2013. Kalil deixou a presidência do clube em 2014 e chegou a se filiar ao PSB com o objetivo de ser candidato a deputado federal naquele ano, mas não seguiu adiante. Em 2016, abrigou-se no pequeno e já extinto PHS e, sem grandes apoios, se lançou à prefeitura baseado no discurso “outsider”, de um postulante sem padrinhos ou grupos políticos.

Kalil não tinha trajetória política. E, na época, a Operação Lava Jato já havia levado à prisão ex-ministros, ex-parlamentares, doleiros e diretores de estatais e comprovado o envolvimento dos principais grupos da política nacional em esquemas de corrupção, o que municiou o sentimento antipolítica na população que ia às urnas — ainda no primeiro turno, eleições como as de João Doria (PSDB) deixaram a tendência clara.

Em Belo Horizonte, o ex-presidente do Galo não tardou a figurar bem nas pesquisas e avançou ao segundo turno com 26,56% dos votos, contra 33,40% de João Leite (PSDB). O adversário era deputado estadual há duas décadas e tinha o apoio do ex-governador Aécio Neves (PSDB), um dos principais caciques da política mineira.

No embate direto, Kalil se dissociou ainda mais da política tradicional, prometeu “enxugar a máquina” e endureceu seus discursos. Na noite de 30 de outubro de 2016, foi eleito com 52,98% dos votos válidos, contra 47,02% do tucano. Aquela foi a única virada entre turnos nas capitais naquele ano.

Fonte: Leonardo Rodrigues