A 'FOLHA DE S. PAULO' AGORA PUBLICA INCLUSIVE ENTREVISTAS PSICOGRAFADAS

15 de maio de 2025 65

Protesto na porta da Folha em 2009: qualificara a ditadura militar de ditabranda.

O mundo gira e a Lusitana roda. O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo passaram por muitas mudanças ao longo dos tempos, mas conservaram uma diferença essencial: 

-- o primeiro, porque foi comandado durante longo tempo por uma família ligada ao jornalismo, exibiu caráter em alguns momentos marcantes; 

-- a segunda, que nasceu pela mão de comerciantes, era e continua sendo amoral, colocando interesses acima de princípios.

Assim, o jornalão dos Mesquitas teve o mérito de lutar firmemente contra a ditadura de Getúlio Vargas, que deveria ter sido unanimemente repudiada por toda a esquerda durante todos os 15 anos que durou, mas foi ora tratada de forma complacente, ora objeto de uma destrambelhada intentona, conforme iam mudando o humor e as ordens de Stálin.

Estadão fez a opção correta ao aderir abertamente à dita revolução constitucionalista, enquanto a Folha ficou em cima do muro em 1932. 

Revoltosos de 1932 exibem exemplar do Estadão

Depois, contudo, a Internacional stalinizada resolveu tirar da cartola um putsch em 1935, despachando Luiz Carlos Prestes para cá com poderes de verdadeiro interventor sobre o partidão: voltou incumbido de vergar a espinha do comitê central do PCB, que não via com bons olhos aquela aventura militar sem respaldo na militância, já que havia sido decidida da noite para o dia.

Foi altaneiro o Estadão ao riscar de sua história o período em que, como represália da ditadura de Vargas, teve sua redação submetida a um interventor in loco.

E continuou sendo altaneiro ao romper com a ditadura dos generais, quando esta não cumpriu o compromisso de devolver o poder aos civis após os expurgos e mudanças de ordenação política que ela veio impor. 

Embora houvesse sido uma das principais lideranças civis da conspiração golpista, o Grupo Estado acabou tendo seus dois veículos (o Estadão e o Jornal da Tarde) censurados e recusando-se a preencher o espaço com novas notícias: o primeiro ali colocava trechos de Os Lusíadas de Camões e o segundo, receitas culinárias.

Mais emblemática ainda foi a atitude de ambos com relação ao DOI-Codi. O Grupo Folha orientou seus recepcionistas a ligarem para os jornalistas buscados pela repressão e, sob falsos pretextos, atraírem-nos para o saguão, onde eram presos. Além disto, cedia suas viaturas para camuflarem as incursões dos agentes.

Folha era retaliada por ceder veículos à repressão

Já no concorrente da rua Major Quedinho, o tratamento era bem diferente. Quando uma patrulha do DOI-Codi chegou para pegar um repórter do JT, o diretor de redação proibiu seu ingresso no prédio e mandou a equipe de segurança garantir que sua ordem seria cumprida. "Lá fora ele pode ser subversivo, mas aqui dentro ele é meu jornalista", justificou.

Em seguida, acionou o governador Abreu Sodré e, como resultado das tratativas, os todo poderosos agentes da repressão tiveram de ficar esperando na calçada. Em vão, porque o mesmo diretor levou o por eles caçado, no porta-malas do próprio carro, até seu sítio e lá o abrigou. 

E, após Vladimir Herzog ser assassinado pelo DOI-Codi, o Grupo Estado decidiu que, quando jornalistas da casa fossem intimados a comparecer para interrogatórios, algum diretor da empresa deveria sempre acompanhá-los, para garantir-lhes a integridade física.

Quis o destino que a Folha de S. Paulo tivesse uma chance de reabilitar sua imagem, que havia sido tão emporcalhada nos anos de chumbo, participando intensamente da campanha das diretas-já em 1983/84.

Bolsonaro teme que prisão cause sua morte política 

Mas, a que vêm estas recapitulações no dia de hoje? À deplorável iniciativa da Folha de S. Paulo, de entrevistar nesta quarta-feira (14) o miasma fedorento do politicamente defunto Jair Bolsonaro. Deveria ter seguido a Bíblia e deixado os mortos enterrarem seus mortos.

Como nunca comentei livro psicografado por médiuns, também não comentarei o besteirol de ontem. O que tinha a dizer, já disse num comentário que enviei de imediato para o UOL e foi nele publicado:

"O UOL bem que poderia nos poupar dessas constrangedoras tentativas de justificar o injustificável. Jair Bolsonaro, hoje, não passa de uma prisão esperando acontecer. As centenas de milhares de brasileiros que ele condenou à morte com sua sabotagem alucinada à vacinação contra a pandemia já não têm voz. Por que dar voz ao seu carrasco?".

Respondo a pergunta que eu mesmo fiz: porque este sempre foi o comportamento da Folha e suas derivações, conforme acima demonstrado. 

Aliás, não fui sequer original: vários outros comentaristas fizeram a mesmíssima crítica.  (por Celso Lungaretti)

Fonte: Celso Lungaretti
A VISÃO DEMOCRÁTICA (POR CELSO LUNGARETTI )