De repente, 68 anos. Num dia nublado, com ameaça de chuva, como o céu da política.
Saudei a chegada de 2018 com a ingênua esperança de que o último grande momento revolucionário da História mundial, ponto culminante até hoje atingido pelas tentativas de construirmos, em escala global, uma sociedade igualitária e livre, pudesse ser retomado e continuado exatamente meio século depois.
Por que exatamente na efeméride? Sei lá. Talvez porque, como qualquer ser humano, eu também precise ter esperanças...
Já nem me lembro quem fez tal previsão, talvez Marx ou Engels: a de que a nova maré revolucionária sempre começa no marco em que a anterior terminou, reatando os fios da História para levar adiante a jornada da humanidade rumo à concretização de seus melhores anseios (antes impossível devido à falta do suficiente para suprir as necessidades materiais de todos os seres humanos, hoje possibilitada pelos avanços científicos e tecnológicos, desde que estes sejam voltados para o bem comum e para nossa convivência harmoniosa com o habitat natural).
Infelizmente para mim, o tempo que me foi dado para viver na Terra não coincidiu com o momento revolucionário dos meus sonhos. O mais perto que cheguei foi mesmo em 1968, mas tudo ruiu na década seguinte. E não houve mais chances, foram esmagadas no nascedouro: diretas-já, protestos de 2013.
Há 50 anos, quando completei 18, o ambiente também estava carregado. Dois meses depois viria o AI-5, fechando totalmente o Brasil e me propondo o desafio de assumir uma missão que provavelmente excederia as minhas forças ou nunca mais suportar ver minha cara no espelho. Ao avançar para o olho do furacão, sabia o que estava fazendo e sabia que nunca mais seria o mesmo.
Se faria tudo de novo? Com certeza! Diante das mesmas circunstâncias, tendemos todos a repetir a mesma opção da vez anterior, pois, em assuntos importantes, é sempre a que melhor expressa quem somos (mas, admito, torço para que a História amarga não se repita, pois me sinto um pouco velho para a clandestinidade...).
Tento encontrar algum sentido nessa jornada que percorri e constato que não é fácil. Parece que minha opção me trouxe grandes alegrias e enorme sofrimento, tudo em dose exagerada. Só sei que não conseguiria viver de outra maneira.
Tenho duas filhas que amo muito e hoje são um sólido motivo para eu continuar tentando dar um desfecho digno àquilo que fiz até hoje.
O show só acaba quando termina, dizia um folclórico cartola do futebol. E, antes que as cortinas se fechem para mim, tudo farei para legar a minhas filhas, se não o paraíso pelo qual lutei, pelo menos algo bem diferente desse inferno em que os fascistas nos tentam aprisionar.