31 DE MARÇO DE 2021: CELEBRAR O QUÊ, GENERAL? PANDEMIA, DESEMPREGO E FOME?
Ulysses Guimarães, ao proclamar
a Constituição de 1988
E assim chegamos a 31 de março de 2021, dia do 57º aniversário do golpe militar de 1964:
— com o país em frangalhos, agora governado por um capitão expulso do Exército, que acaba de provocar a maior crise nas Forças Armadas desde a redemocratização do país;
— em meio a uma pandemia avassaladora que já matou mais de 318 mil brasileiros e deixou 12,7 milhões de contaminados pelo coronavírus.
Mesmo assim, o novo ministro da Defesa, general Braga Netto, encontrou motivos para convidar a população a celebrar a data em sua primeira ordem-do-dia.
A resposta a esse escárnio veio na lata pelo governador de São Paulo, João Doria:
"Ao contrário do que declarou ontem o novo ministro da Defesa, general Braga Netto, o Brasil não tem razão nenhuma para comemorar o golpe de 1964. Tem, sim, muitas razões para chorar a ditadura militar e os milhares de mortos e torturados na fase mais dura da história brasileira".
Comemorar o quê, general?
Com os hospitais e cemitérios superlotados, 14,3 milhões de desempregados e mais de 10,3 milhões de famílias passando fome, segundo o IBGE, o Brasil se tornou o pior país do mundo para se viver.
Vocês estão destruindo aquela que já foi a 6ª maior economia do mundo há 10 anos, e agora caiu para o 12º lugar, com tendência de baixa, colocando em risco as instituições democráticas, a federação e as relações internacionais, incapazes de proteger a Amazônia e enfrentar a crise sanitária sem precedentes, provocando deliberadamente o caos social em sua louca escalada autoritária e desumana.
Comemorar o quê, general?
A fome e o desespero grassam neste país novamente governado pelos militares, sem recursos para a educação e a saúde, famílias sem teto jogadas nas calçadas das grandes cidades, a violência urbana fora de controle, com as milícias à solta e bem armadas, a infraestrutura do país detonada, milhões de jovens desesperançados, sem trabalho e sem escola.
Estamos chegando a abril e não temos até hoje um orçamento aprovado para 2021, com um ministério de incompetentes e lunáticos, verdadeiro catado do que o país tem de pior e mais repulsivo, e um Congresso dominado pelo fisiológico centrão, que só quer garantir recursos para suas emendas parlamentares, mordomias e privilégios para os militares.
Nunca tivemos um governo como esse, tão distante dos anseios e demandas da população, que vive numa realidade paralela e deixa aos sobressaltos 212 milhões de habitantes a cada novo surto do capitão contra inimigos reais ou imaginários, uma população encurralada, impedida de sair às ruas pelo desmazelo do Ministério da Saúde, o boicote federal à vacinação em massa e às medidas de distanciamento social para combater a pandemia.
Não basta o que vocês fizeram na longa noite dos 21 anos de ditadura militar, que ceifaram os sonhos de toda uma geração e deixaram como herança a hiperinflação e uma impagável dívida pública construída nos delírios do Brasil Grande?
Comemorar o quê general?
Vocês deveriam era pedir desculpas à Nação pelo mal que fizeram ontem e continuam fazendo hoje, quando se imaginava que esse passado das trevas estava para sempre enterrado no lixo da história.
Enquanto escrevo, sei que mais e mais brasileiros estão morrendo sem leitos, remédios e oxigênio nos hospitais, e nós agora ficamos aqui discutindo a crise militar –era só o que faltava!–, deixando em segundo plano a pandemia ignorada pelo capitão em seus delírios golpistas.
Aos 73 anos, general, não esperava viver tudo isso outra vez.
Perdoem-me os leitores pelo desabafo, mas não dá para fazer de conta que nada está acontecendo, que o país não vai morrendo aos poucos, e tem alguma coisa para comemorar neste dia, um dos mais tristes da nossa história.
Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)
Postado por celsolungaretti
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